Se tínhamos alguma duvida quanto a seleção estar pronta para o mundial...ai vai!
*observem que por falta de união, não é...talvez pelo time todos desconfiem.
Que Felipe Melo e Lúcio gritam palavrões durante todo o jogo, não é
preciso ser um gênio para adivinhar, mas seria impossível supor o bom
moço Kaká e o franzino Robinho encarando, provocando e ameaçando
jogadores da Tanzânia. Era ver para crer.
Eu estava lá para observar o time brasileiro, mas antes mesmo de o jogo
começar, vale a pena relatar o desespero de um DJ. Ele estava
controlando a insuportável seleção de reggaes que deveria servir para
animar a torcida no estádio, mas o volume era tão ensurdecedor que o
preparador físico da seleção, Fábio Mahseredjian, foi atrás do gol para
pedir que abaixasse. Estava impedindo os jogadores de ouvir os comandos
dele e do outro preparador, Paulo Paixão. Fabio foi desprezado pelo DJ, e
o reggae continuou a massacrar os tímpanos de quem estava no gramado,
já que gigantescas caixas de som foram colocadas na pista de atletismo.
Mas a raiva de Fábio trouxe má sorte ao DJ. Era ele também quem
controlava os Hinos nacionais que foram tocados antes da partida. No do
Brasil, nenhum problema. No da Tanzânia, o constrangimento. O CD devia
estar desgastado, riscado, e ficou repetindo o refrão por várias vezes. A
torcida ficou irritada. Os jogadores locais, possessos. O Hino
recomeçou do início. A bronca que o DJ tomou de um general do Exército
da Tanzânia foi absurda. Ele esteve a ponto de dar um soco, mas depois
se acalmou. Praga do preparador físico brasileiro.
Começa a partida. Nos primeiros 25 minutos, pressão pelo lado esquerdo
da defesa brasileira, nas costas de Michel Bastos. Juan chegou a tomar
uma bola no meio das pernas ao tentar cobrir o lateral. Lúcio ficou
possesso e passou a desabafar, xingando todos com os palavrões possíveis
e imagináveis. Xingou e olhou para cima, para não desmoralizar Michel.
Nem as vuvuzelas, praga em toda a África, impediam de ouvir os palavrões
em bom português. Lúcio fez gestos irritados ao bandeira, mas depois,
sutilmente, olhou para o lateral. O capitão manda.
- Presta atenção, p...
Juan foi mais sutil, mais suave. Chegou perto e falou ao ouvido de
Bastos. Lúcio é a explosão e Juan, a razão. Michel Bastos tratou de
defender mais o seu setor. O problema foi resolvido.
A dupla de zaga brasileira está muito entrosada, não conversa, mas se
entende pelo olhar e gestos. É muito interessante, reação típica de quem
se conhece há anos. Lúcio e Juan sabem que formam uma das melhores
duplas de zagueiros do mundo, porque se completam.
Já Felipe Melo merece um câmera o acompanhando em todas as partidas. Ele
provoca, encara, xinga os adversários, principalmente os que estão se
destacando no ataque adversário. Foi assim com os jogadores de Tanzânia.
Mal conseguiam um drible, uma tabela ou chute a gol, bastava a bola
ficar do outro lado do campo e ele se aproximava, ficava olhando com
cara de briga e soltando vários palavrões em português. E a tática
funciona. Alguns adversários, assustados, saíram de perto dele e
passaram a tocar a bola ao chegar no volante. O que resolveu encará-lo,
depois de uma dividida, voou, foi se queixar com o árbitro e passou a
jogar longe de Felipe.
Seu companheiro de intermediária é um “gentleman”. Gilberto Silva segue a
escola de Juan e prefere falar ao pé do ouvido, até mesmo com o
adversário. Experiente, com duas Copas nas costas, não quer chamar a
atenção. E o mais importante: é respeitado. Os que escutam suas
orientações ou cobranças têm a mesma reação: afastam-se, balançando a
cabeça afirmativamente.
A maior preocupação de Dunga era Kaká. Durante todo o jogo o treinador
ficou olhando e fazendo sinais de incentivo ao meia. Gritava “Vai, vai,
vai”, como um pai acompanhando o treinamento de um filho adolescente. No
gol de peito, o técnico vibrou como uma avó ao saber que seu neto
passou no vestibular. As orientações e gestos de incentivo duraram até o
final do jogo.
Ao lado do gramado, deu para perceber a tristeza de Julio Baptista. Ele
treinou muito e esperava entrar contra a Tanzânia, mas Dunga o havia
avisado que só jogaria se Kaká não suportasse o ritmo, pedisse para
sair. Resultado: o meia reserva assistiu ao jogo com as mãos no queixo,
desapontado. Dunga nem o mandou aquecer, e o jogador ficou sentado no
banco, vendo Kaká.
Por falar nele, o meia do Real Madrid se mostrou influenciado pelos
recentes cortes de jogadores importantes da Copa. Bastava qualquer
adversário dividir com força a bola com ele e o bom moço desaparecia.
Encarou, provocou, ameaçou a todos que ousaram fazer falta nele, sujar
seu uniforme. Empurrou, não aceitou pedidos de desculpas e pediu cuidado
com as entradas aos jogadores da Tanzânia, principalmente os pontapés
por trás. Ele até revidou algumas faltas. Robinho, Luís Fabiano, Elano e
Felipe Melo eram seus guarda-costas. Se ele discutia com alguém, quando
a bola estava longe, um deles logo se aproximava do jogador e o
encarava.
É muito interessante perceber quantas coisas acontecem quando as câmeras
estão seguindo a bola. Robinho rouba a cena. Ele é folgado, desafia o
adversário e o encara até que fale alguma coisa, e aí xinga. E só quem é
xingado ouve. Na próxima bola que recebe, procura o rival para o
drible. É assim que busca falta, cartão amarelo, vermelho. Não há santo
no futebol.
Por duas vezes, ficou evidente o quanto Luís Fabiano quer mudar a sua
imagem. Ele discutiu com marcadores, xingou, ofendeu as mães dos
zagueiros. Quando o clima parecia que ia esquentar, ele virava as
costas. Parecia lembrar que estava com a camisa da seleção e não da
Ponte Preta, quando as suas expulsões eram perdoadas. Mas Luís Fabiano
se cobrava, não se perdoava quando chutava mal a bola. Sua raiva era
evidente por não conseguir marcar. Ele já soma três coletivos e dois
jogos em branco. Quando o jogo acabou, ele não quis olhar para ninguém.
Em compensação, Ramires falava e sorria sozinho de tanta felicidade. A
bola estava do outro lado do campo e ele correndo sorrindo, sabe que vai
ser útil de verdade na Copa do Mundo. Foi emocionante.
Além dos palavrões novos, algo fica marcado para quem acompanha ao lado
do gramado a seleção de Dunga jogar para valer. Ela passa os 90 minutos
atuando com raiva. Em cada lance fica nítido esse sentimento. Os
jogadores compraram para valer a ideia de que são eles contra todos.
Essa filosofia trouxe união. Os atletas se apoiam, cobram-se mutuamente e
não admitem qualquer desrespeito por parte do adversário, além de
protegerem Kaká, com a devoção de irmãos mais velhos para com o caçula, o
mais talentoso da família.
Para o bem ou para o mal, o Brasil de Dunga está pronto. Que venha a
Copa do Mundo.
Um Jornalista presente no estádio.
*observem que por falta de união, não é...talvez pelo time todos desconfiem.
Que Felipe Melo e Lúcio gritam palavrões durante todo o jogo, não é
preciso ser um gênio para adivinhar, mas seria impossível supor o bom
moço Kaká e o franzino Robinho encarando, provocando e ameaçando
jogadores da Tanzânia. Era ver para crer.
Eu estava lá para observar o time brasileiro, mas antes mesmo de o jogo
começar, vale a pena relatar o desespero de um DJ. Ele estava
controlando a insuportável seleção de reggaes que deveria servir para
animar a torcida no estádio, mas o volume era tão ensurdecedor que o
preparador físico da seleção, Fábio Mahseredjian, foi atrás do gol para
pedir que abaixasse. Estava impedindo os jogadores de ouvir os comandos
dele e do outro preparador, Paulo Paixão. Fabio foi desprezado pelo DJ, e
o reggae continuou a massacrar os tímpanos de quem estava no gramado,
já que gigantescas caixas de som foram colocadas na pista de atletismo.
Mas a raiva de Fábio trouxe má sorte ao DJ. Era ele também quem
controlava os Hinos nacionais que foram tocados antes da partida. No do
Brasil, nenhum problema. No da Tanzânia, o constrangimento. O CD devia
estar desgastado, riscado, e ficou repetindo o refrão por várias vezes. A
torcida ficou irritada. Os jogadores locais, possessos. O Hino
recomeçou do início. A bronca que o DJ tomou de um general do Exército
da Tanzânia foi absurda. Ele esteve a ponto de dar um soco, mas depois
se acalmou. Praga do preparador físico brasileiro.
Começa a partida. Nos primeiros 25 minutos, pressão pelo lado esquerdo
da defesa brasileira, nas costas de Michel Bastos. Juan chegou a tomar
uma bola no meio das pernas ao tentar cobrir o lateral. Lúcio ficou
possesso e passou a desabafar, xingando todos com os palavrões possíveis
e imagináveis. Xingou e olhou para cima, para não desmoralizar Michel.
Nem as vuvuzelas, praga em toda a África, impediam de ouvir os palavrões
em bom português. Lúcio fez gestos irritados ao bandeira, mas depois,
sutilmente, olhou para o lateral. O capitão manda.
- Presta atenção, p...
Juan foi mais sutil, mais suave. Chegou perto e falou ao ouvido de
Bastos. Lúcio é a explosão e Juan, a razão. Michel Bastos tratou de
defender mais o seu setor. O problema foi resolvido.
A dupla de zaga brasileira está muito entrosada, não conversa, mas se
entende pelo olhar e gestos. É muito interessante, reação típica de quem
se conhece há anos. Lúcio e Juan sabem que formam uma das melhores
duplas de zagueiros do mundo, porque se completam.
Já Felipe Melo merece um câmera o acompanhando em todas as partidas. Ele
provoca, encara, xinga os adversários, principalmente os que estão se
destacando no ataque adversário. Foi assim com os jogadores de Tanzânia.
Mal conseguiam um drible, uma tabela ou chute a gol, bastava a bola
ficar do outro lado do campo e ele se aproximava, ficava olhando com
cara de briga e soltando vários palavrões em português. E a tática
funciona. Alguns adversários, assustados, saíram de perto dele e
passaram a tocar a bola ao chegar no volante. O que resolveu encará-lo,
depois de uma dividida, voou, foi se queixar com o árbitro e passou a
jogar longe de Felipe.
Seu companheiro de intermediária é um “gentleman”. Gilberto Silva segue a
escola de Juan e prefere falar ao pé do ouvido, até mesmo com o
adversário. Experiente, com duas Copas nas costas, não quer chamar a
atenção. E o mais importante: é respeitado. Os que escutam suas
orientações ou cobranças têm a mesma reação: afastam-se, balançando a
cabeça afirmativamente.
A maior preocupação de Dunga era Kaká. Durante todo o jogo o treinador
ficou olhando e fazendo sinais de incentivo ao meia. Gritava “Vai, vai,
vai”, como um pai acompanhando o treinamento de um filho adolescente. No
gol de peito, o técnico vibrou como uma avó ao saber que seu neto
passou no vestibular. As orientações e gestos de incentivo duraram até o
final do jogo.
Ao lado do gramado, deu para perceber a tristeza de Julio Baptista. Ele
treinou muito e esperava entrar contra a Tanzânia, mas Dunga o havia
avisado que só jogaria se Kaká não suportasse o ritmo, pedisse para
sair. Resultado: o meia reserva assistiu ao jogo com as mãos no queixo,
desapontado. Dunga nem o mandou aquecer, e o jogador ficou sentado no
banco, vendo Kaká.
Por falar nele, o meia do Real Madrid se mostrou influenciado pelos
recentes cortes de jogadores importantes da Copa. Bastava qualquer
adversário dividir com força a bola com ele e o bom moço desaparecia.
Encarou, provocou, ameaçou a todos que ousaram fazer falta nele, sujar
seu uniforme. Empurrou, não aceitou pedidos de desculpas e pediu cuidado
com as entradas aos jogadores da Tanzânia, principalmente os pontapés
por trás. Ele até revidou algumas faltas. Robinho, Luís Fabiano, Elano e
Felipe Melo eram seus guarda-costas. Se ele discutia com alguém, quando
a bola estava longe, um deles logo se aproximava do jogador e o
encarava.
É muito interessante perceber quantas coisas acontecem quando as câmeras
estão seguindo a bola. Robinho rouba a cena. Ele é folgado, desafia o
adversário e o encara até que fale alguma coisa, e aí xinga. E só quem é
xingado ouve. Na próxima bola que recebe, procura o rival para o
drible. É assim que busca falta, cartão amarelo, vermelho. Não há santo
no futebol.
Por duas vezes, ficou evidente o quanto Luís Fabiano quer mudar a sua
imagem. Ele discutiu com marcadores, xingou, ofendeu as mães dos
zagueiros. Quando o clima parecia que ia esquentar, ele virava as
costas. Parecia lembrar que estava com a camisa da seleção e não da
Ponte Preta, quando as suas expulsões eram perdoadas. Mas Luís Fabiano
se cobrava, não se perdoava quando chutava mal a bola. Sua raiva era
evidente por não conseguir marcar. Ele já soma três coletivos e dois
jogos em branco. Quando o jogo acabou, ele não quis olhar para ninguém.
Em compensação, Ramires falava e sorria sozinho de tanta felicidade. A
bola estava do outro lado do campo e ele correndo sorrindo, sabe que vai
ser útil de verdade na Copa do Mundo. Foi emocionante.
Além dos palavrões novos, algo fica marcado para quem acompanha ao lado
do gramado a seleção de Dunga jogar para valer. Ela passa os 90 minutos
atuando com raiva. Em cada lance fica nítido esse sentimento. Os
jogadores compraram para valer a ideia de que são eles contra todos.
Essa filosofia trouxe união. Os atletas se apoiam, cobram-se mutuamente e
não admitem qualquer desrespeito por parte do adversário, além de
protegerem Kaká, com a devoção de irmãos mais velhos para com o caçula, o
mais talentoso da família.
Para o bem ou para o mal, o Brasil de Dunga está pronto. Que venha a
Copa do Mundo.
Um Jornalista presente no estádio.